Fichamento 1


Universidade de Brasília – UnB
Faculdade de Educação – FE
Disciplina: Práticas Mediáticas da Educação
Aluna: Juliane Pereira de Sales

Fichamento I
VALENTE, José Armando; ALMEIDA, Fernando José de Almeida. Visão analítica da informática na educação no Brasil: a questão da formação do professor. Revista Brasileira de Informática na Educação, n.1, setembro de 1997. p. 45-60.

RESUMO
A informática na educação é recente, porém já tem uma identidade não reconhecida plenamente nas escolas e pelos os professores. Contudo, isso não é resultado apenas da falta de recursos. Tendemos sempre a culpabilizar o governo pelo o fracasso das políticas educacionais.
Na verdade há outros fatores desse fracasso, principalmente com relação a formação dos professores para lidar com esse novo contexto. Embora um dos objetivos seja alfabetizar em informática, no Brasil o objetivo principal foi voltado para o âmbito pedagógico. Para atender esse objetivo, no entanto, é necessário uma nova concepção dos cursos de formação de professores.
Diante dessa apresentação, o objetivo do texto é descrever as principais experiências na área da informática na educação nos Estados Unidos e na França. Além disso, apresenta a questão no contexto brasileiro, aprofundando na questão da formação dos professores.

A influência de outros países no desenvolvimento da informática na educação brasileira
Os avanços brasileiros são praticamente os mesmos que dos EUA e da França. Na França e no EUA foram poucos avanços referentes ao âmbito pedagógico.

Informática na educação nos EUA
O uso do computador nas escolas foi baseado no desenvolvimento tecnológico competitivo. Nos anos 70, o EUA e o Brasil se assemelhavam com relação a utilização dos mesmos recursos materiais presentes em sala de aula.
Já as universidade norte-americanas tinham mais acesso aos computadores, tanto que foi criado softwares auxiliares na educação ( CAI), sendo o mais conhecido o Plato. A partir disso, o tema tornou-se centro de discussões.
O CAI apresentaram dificuldades de ordem técnica e de produção de material. Além disso, com relação a educação e sua reforma o problema encontrava-se na questão da aprendizagem, na preparação de manware e na concepção fundamentada a respeito da importância de seu ensino.
Na década de 1980, o problema do tamanho dos computadores dói solucionado com o aparecimento dos microcomputadores. Com o microcomputador ocorreu o aumento de softwares educacionais. A presença destes começou a ser vista como ferramenta para a educação, como ferramenta de complementação.
A linguagem Logo foi desenvolvida em 1967, primeiramente disposto apenas nas universidades. Com os microcomputadores passou, então, a ser usado nas escolas. O problema encontrado foi a não adaptação dos professores a Logo.
Na década de 1990, ocorre o uso global de computadores em todos os níveis de ensino. Porém, sem muitos avanços pedagógicos. Nas escolas de educação básica este uso esteve mais associado a automoção da instrução, muitas vezes deixando o aluno sem o auxilio necessário para o uso adequado dessa ferramenta.
O computador tornou-se material essencial do aluno de graduação. Uma preocupação desse uso é o fato de está quase que totalmente direcionado para a transmissão de conhecimento sem a devida preocupação com a relação homem e máquina. Desta forma, os professores foram treinados sobre técnicas de uso de softwares com ênfase na transmissão de informação.

Informática na educação na França
A França buscou hegemonia na manipulação de informações da informática. A escola pública é fortíssima. A implantação da informática foi bem planejada, principalmente com relação ao formação dos professores.
Na França foi utilizado o EAO, um software com maior aproximação com o ensino. O objetivo do programa francês era capacitar o aluno no uso da informática.
Na década de 1990, informatizaram os centros de documentação e de informação com o intuito de gestão de acervo. Atualmente há duas tendências do seu uso: a interligação dos equipamentos em redes de dados e o emprego de equipamentos portáteis.
A preocupação era formar jovens capazes de se adaptarem as demandas do mercado de trabalho. Porém, os resultados foram maus amplos, principalmente no que concerne a uma educação mais aberta e articuladora, ou seja, consequentemente houve avanços pedagógicos, mesmo que não planejados.
Um ponto forte francês foi a preocupação com a formação dos professores como essencial para a inclusão da informática na educação. Além disso, outra preocupação francesa foi a garantia de acesso a informação e a informática a todos.

As bases para a informática na educação no Brasil
No Brasil, o uso da informática iniciou nas universidades. O Seminário Nacional de Informática foi o ponta pé inicial da implantação do programa de informática na educação. A partir destes seminários, surgiu o EDUCOM como fruto da discussão da comunidades de técnicos, como também com profissionais da educação, o que mostra que o trabalho sempre foi em parceria e não apenas limitado aos órgãos educacionais, ou se já, uma descentralização das políticas. Esta é a primeira diferença do  Brasil com relação ao EUA e a França.
A segunda diferença é o fato            que as políticas sempre foram fundamentada em pesquisas empíricas.s endo também a base do EDUCOM uma visão metodológica formada por uma equipe multidisciplinar.
A terceira foi que no Brasil o papel foi provocar mudanças pedagógicas, diferentemente do francês que busca apenas capacitar o aluno a usar o computador. A dificuldade é mudar o pensamento do conhecimento centrado no professor e unicamente com a função de transmitir informação.
A experiência com o EDUCOM possibilitou o aumento das discussões a respeito da informática na educação e diversas experiências de sucesso com frutos pedagógicos. Contudo, vale ressaltar que isto não ocorre de forma global pelo o país.
O papel do professor deve ser de facilitador do processo de aprendizagem. Cabe ao cenário atual de educação uma nova organização da sala de aula que ponha professor e aluno como sujeitos da construção do conhecimento e da busca por ele.
No Brasil há duas realidades a respeito da inserção da transformação da educação. Nas escolas públicas há mais aceitação com relação ao processo de repensar a escola e o preparo dos seus professores. No entanto, nas escolas particulares não se encontra essa renovação.

Formação de professores em informática na educação
Os cursos na área de informática na educação é a formação continuada. Há algumas dificuldades nestes cursos como a descentralização e a não contribuição para a construção de um ambiente de mudança pedagógica.
No Brasil houve os cursos Formar I e II com o objetivo de desenvolver cursos de especialização na área. Pontos positivos desse projeto: preparação para lidar com a ferramenta, disseminação e formação de novos profissionais pelos professores formados nesses cursos, e o curso ter sido ministrado por especialistas de todo o Brasil. Pontos negativos: a distância com relação ao local de residência dos participantes, curso compacto,e nem sempre a volta para os seus locais de trabalho propiciaram a implantação da informática na educação.
Para a implantação da informática é necessário, principalmente, uma formação de professores com uma nova abordagem. Há barreiras do ensino e uso da informática que devem ser superadas, tais como os problemas pedagógicos na escolha dos conteúdos. Estes devem ser escolhidos de acordo com o currículo e a proposta pedagógica adotada pela a escola. Os cursos de formação devem ser de vivência e construção.

Evolução do computador no Brasil e as implicações na formação de professores
A Apple não foi utilizada nas escola no Brasil devido a problemas técnicos. O computador adotado foi o MSX com bons softwares educativos. Porém este computador tinha algumas limitações: não havia facilidade de gravar informações em disco, ligar-se a impressora e outros dispositivos, e nem dispunha de processador de texto ou programas de planilha e banco de dados. Como o MSX não dava conta de tudo era necessário o uso de outro computador.
O Windows possibilitou o desenvolvimento de programas. Essas novas possibilidades requerem do professor uma formação mais sólida e ampla. A pouca compreensão de conteúdo limita a ação do professor em suas atividades.
Diante disso, os professores acostumados com os computadores antigos sentem-se inseguros com as novas tecnológicas, desta forma, suas formações devem ser refeitas ou atualizadas. A vantagem da atualidade é a  aproximação dos professores com os centros de formação por meio da internet.
As práticas inovadoras necessitam de um novo pensamento transformador da escola, tornando-a mais flexível, dinâmica e articuladora. Para o sucesso é necessário considerar os professores como parceiros na concepção de todos os trabalhos na área de informática na educação. E estes, como executores, devem estar prontos para desenvolver e avaliar os projetos nessa área da educação.

CITAÇÕES PRINCIPAIS DO TEXTO:
“A posição que defendemos é que, além da falta de verbas existiram outros fatores responsáveis pela escassa penetração da Informática na Educação. A preparação inadequada de professores, em vista dos objetivos de mudança pedagógica propostos pelo "Programa Brasileiro de Informática em Educação" (Andrade, 1993; Andrade & Lima, 1993) é um destes fatores. Esse programa é bastante peculiar e diferente do que foi proposto em outros países. No nosso programa, o papel do computador é o de provocar mudanças pedagógicas profundas ao invés de "automatizar o ensino" ou promover a alfabetização em informática como nos Estados Unidos, ou desenvolver a capacidade lógica e preparar o aluno para trabalhar na empresa, como propõe o programa de informática na educação da França. Essa peculiaridade do projeto brasileiro aliado aos avanços tecnológicos e a ampliação da gama de possibilidades pedagógicas que os novos computadores e os diferentes softwares disponíveis oferecem, demandam uma nova abordagem para os cursos de formação de professores e novas políticas para os projetos na área.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“As mudanças pedagógicas são sempre apresentadas ao nível do desejo, daquilo que se espera como fruto da informática na educação. Não se encontram práticas realmente transformadoras e suficientemente enraizadas para que se possa dizer que houve transformação efetiva do processo educacional como por exemplo, uma transformação que enfatiza a criação de ambientes de aprendizagem, nos quais o aluno constrói o seu conhecimento, ao invés de o professor transmitir informação ao aluno.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“Alguns críticos dessa abordagem pedagógica argumentam que a exploração da rede, em alguns casos, deixa os alunos sem referência, com sensação de estarem perdidos ao invés de serem auxiliados no processo de organizar e digerir a informação disponível.”
( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“Talvez o que mais tenha marcado o programa de informática na educação da França tenha sido a preocupação com a formação de professores. Desde o início de 1970 a formação de professores e técnicos das escolas foi considerada como condição imperativa para uma real integração da informática à educação. Foram estruturados centros de formação e, no segundo plano nacional, houve uma preparação intensiva dos professores, mas ainda sem uma abordagem pedagógica específica. Os conteúdos versavam sobre o estudo do objeto informática e computadores, bem como sobre introdução a linguagens de programação, sem estabelecer articulações entre teorias educacionais e práticas pedagógicas com o computador.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“(...)a primeira grande diferença do programa brasileiro em relação aos outros países, como França e Estados Unidos, é a questão da descentralização das políticas. No Brasil as políticas de implantação e desenvolvimento não são produto somente de decisões governamentais, como na França, nem conseqüência direta do mercado como nos Estados Unidos.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“O processo de repensar a escola e preparar o professor para atuar nessa escola transformada está acontecendo de maneira mais marcante nos sistemas públicos de educação, principalmente os sistemas municipais. Nas escolas particulares o investimento na formação do professor ainda não é uma realidade.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“As experiências de implantação da informática na escola têm mostrado que a formação de professores é fundamental e exige uma abordagem totalmente diferente. Primeiro, a implantação da informática na escola envolve muito mais do que prover o professor com conhecimento sobre computadores ou metodologias de como usar o computador na sua respectiva disciplina. Existem outras barreiras que nem o professor nem a administração da escola conseguem vencer sem o auxílio de especialistas na área.” ( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“É o contexto da escola, a prática dos professores e a presença dos seus alunos que determinam o que vai ser trabalhado pelo professor do curso.” ( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“A nossa experiência observando professores desenvolvendo atividades de uso do computador com alunos tem mostrado que os professores não têm uma compreensão mais profunda do conteúdo que ministram e essa dificuldade impede o desenvolvimento de atividades que integram o computador.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“A possibilidade de sucesso está em se considerar os professores não apenas como os executores do projeto, responsáveis pela utilização dos computadores e consumidores dos materiais e programas escolhidos pelos idealizadores do projeto, mas principalmente como parceiros na concepção de todo o trabalho. Além disso, os professores devem ser formados adequadamente para poderem desenvolver e avaliar os resultados desses projetos.”
( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“Os avanços tecnológicos têm desequilibrado e atropelado o processo de formação fazendo com que o professor sinta-se eternamente no estado de "principiante" em relação ao uso do computador na educação.” ( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

“A formação do professor deve prover condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. Essa prática possibilita a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno. Finalmente, deve-se criar condições para que o professor saiba recontextualizar o aprendizado e a experiência vividas durante a sua formação para a sua realidade de sala de aula compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se dispõe a atingir.”( VALENTE;ALMEIDA, 1997)

COMENTÁRIOS:
O texto explicita o histórico e a concepção do ensino de informática no Brasil, principalmente no que concerne a formação de professores. Talvez, este seja o maior desafio para a implantação de uma informática eficiente nas escolas. Mudar concepções e comodismos de pessoas é uma tarefa difícil para ser realizada da noite para o dia. Contudo, com o incentivo a renovação teórica e quebra de preconceitos e práticas tradicionalistas, será possível promover uma educação transformadora. Na verdade, a grande questão da escola atual está na necessidade de quebra de paradigmas que leve principalmente a concretização da ideia central dos debates atuais: o processo de ensino e aprendizagem centrado no aluno, e não apenas visto como transmissão de informações.

QUESTIONAMENTOS:
O texto leva a mais uma reflexão do papel da educação na sociedade brasileira. Na verdade o enfoque no ensino de informática apenas confirma uma das facetas da educação brasileira: falta de preocupação, projetos curtos, evasivos e cheio de falhas estruturais e técnicas. O que nos leva a pensar que concepção de educação é adotada pelo o sistema do nosso país: uma educação formadora de cidadãos ou uma segregadora que define quem pode ou não ter acesso aos bens culturais, históricos e tecnológicos construídos pela a humanidade? Acredito que estamos no meio, caminhando para a primeira abordagem, contudo os que pensam a primeira são desencorajados pela a ação dos que agem de acordo com a segunda.



Nenhum comentário:

Postar um comentário